domingo, 18 de dezembro de 2011

O telefone tocou. Eu não queria sair. Ele insistiu. Eu insisti. Nos calamos. Fui deitar.
Teimoso, ele não tardou a bater na minha porta. Eu sabia que bateria, já o conhecia bem, além do cachorro ter me avisado tão rápido quanto pode farejá-lo de longe. Os dois se odiavam há anos.
-Entra.
-Tá.
- Espera um pouco.
- Não demora.
- Tá.
Enquanto me arrumava pensava que até acabar um dos dois estaria morto, ou o cachorro ou ele. Tudo bem, eu mesma não gostava de cães até ser encontrada por um. Pronto.
- Aonde vamos?
- Andar.
- Que bom, preciso respirar.
- Então apaga o cigarro!
Outra vez: - Tá.
Ar de verão. Noite clara. Lua linda. Gostávamos de andar, de brincar, de brigar, de debochar, de chorar, de esperar, de frustrar, de realizar, de errar e perdoar. Era só assim que sabíamos amar. Eu quis sentar em um banco na avenida. Ele não. Ele quis entrar em um bar. Eu não. Insistiu. Insisti. Não cedeu. Cedi.
Tumulto absoluto lá dentro. E água para dois. Sim, água!
Ele ficou me olhando. Parecia que esperava alguma coisa. De fato, esperava alguma coisa. Qualquer pessoa esperaria. Eu precisava policiar minha natureza egoísta de pensar que só eu sofria.
Eu poderia falar da saudade que sentia e da que  sentiria, dos riscos que ele correria, dos que eu corria e não temia, dos que eu temia e daqueles dias que eu era só temor. Eu choraria se pudesse. Eu poderia falar da alegria de ver ele ir assim e da dor de ver ele ir assim. Poderia dizer que levaria ele até o aeroporto ou me justificar por não ir. Eu deveria ter comprado um presente. Eu poderia ter sido mais presente. Eu queria qualquer coisa mais especial, mas eu não sabia ser, eu mal existia àquela altura.
Eu não falei, eu não fiz.
Não foi questão de medo e muito menos de coragem. Foi opção. Sempre falamos demais, os dois.
Preferi abraçar.
Forte.
Quente.
Sofro de um sentimentalismo absurdo uma vez por mês. Ele às vezes entende, outras não.

Ramona C. Reichert