quinta-feira, 28 de março de 2013


Eu sou sensível ao mundo e frequentemente concluo que a vida me dói.
Hoje não foi diferente.
Há alguns minutos chorei a morte de um que não é dos meus.
Chorei a morte de um desconhecido, de um José, um Alberto, um Carlos, um Ataíde, não sei.
Chorei a morte de alguém que nem vi o rosto.
Desconfio que seja homem pela botina masculina jogada no asfalto próximo ao corpo inerte que jazia ali, na estrada, da forma mais indigna.
Não há quem mereça morte assim.
Embora coberto, aquele corpo foi alvo de pena, de susto, de horror.
A vida é um horror, não entendo porque a morte aterroriza.
Mas ali não era a morte em si, era a forma como ela se deu, a fatalidade, a tragédia que atrai o olhar dos passantes.
Eu também passei, vi, senti e chorei.
Chorei por aquele homem estendido no chão.
Perguntei-me se teria família, pais, filhos, amigos, um cachorro fiel.
Depois eu chorei outra vez.
Chorei porque sinto que ninguém é capaz de desejar que algo como aquilo aconteça.
Então, desta vez chorei pelo responsável. Pobre. É preferível morrer a ceifar a vida de alguém.
E no fim das contas me pergunto por que eu não consigo ser alheia a tudo que é alheio a mim?
Por que eu estou aqui, escrevendo sobre isso, vendo ainda aquela imagem, como naquele momento, enquanto todos os outros que passaram seguiram seus caminhos?
Não sei.