Quando me deixo levar pela desordem que sinto é que elas surgem.
De repente elas começam a se mexer em mim, independentes.
Sinto-me cheia.
Desconfortável.
É quando tudo dói.
Sei que só as gero quando há dor.
Ou quando não há nada, que
deve ser a pior dor.
Eu as temo.
Temo o que elas revelam de mim, para mim.
Sim, porque de mim elas saem, mas não me pertencem, nem me
obedecem.
Sou obrigada a respeitar o que me é dito por elas/mim.
E quanto mais eu me jogo no intenso do que vivo, mais elas
se fortalecem.
É na minha instabilidade que elas criam autonomia.
No meu caos particular que as palavras nascem.
Nascem e efervescem.
Vão ebulindo com as emoções e me transcendem, me ultrapassam.
Acabam assim, jogadas e sem ordem no papel.
A intensidade não cabe em mim. É bicho e me devora.
Eu escapo por entre as linhas que escrevo, livres e
desconexas, em carta para quem/ti/mim/nós/oque?
Que venham, que venham aos montes.
Que venham turbilhões de
palavras para minha fuga.
Que me transbordem inteira porque estou perdida.
Doidamente perdida.
Doloridamente perdida.
Deliciosamente perdida.