terça-feira, 16 de fevereiro de 2010



Estavam os dois ali, sentados sob a sombra do grande carvalho plantado no quintal. Não sabiam o que a noite que se aproximava lhes reservava, sequer queriam saber. Estavam ali, apenas, absortos no que sentiam, se olhando, como sempre e em qualquer outro lugar.
Ele dizia a ela coisas lindas de se ouvir, agradáveis de sentir.
Relembrava com doce saudosismo o que já haviam vivido de mãos dadas pelo tempo. Percebera, ao falar, que sua própria segurança era a mão dela na sua, advinha da dependência dela por ele. Conhecera uma pequena doente, amedrontada e assustada e oferecera a ela uma mão firme para segurar. Mas repentinamente ela começara a crescer estrondosamente, tal qual o carvalho que naquela ocasião os resguardava do sol. A delicada e indefesa plantinha que acolhera, tornara-se algo enorme diante de seus olhos, a pequena e fragilizada menina se tornara grande e independente.
Onde estava ele em sua vida agora que ela não precisava mais de sua mão?
De longe eu via que a insegurança o tinha tomado, que pecava pelo medo, que buscava outra necessidade para zelar por ela, que tentava a dominar, deter aquela força violenta que explodia nela em crescimento e o fazia se sentir menor em sua vida. Não queria permitir que ela soltasse sua mão.
Talvez, de fato, isso estivesse acontecendo.
Ela, por sua vez, disse a ele coisas cruéis de se ouvir, dolorosas de sentir. Assim como o carvalho, para crescer ela precisava de espaço. Ele não abria, podava os seus galhos maiores, afastava quem se aproximava para admirar seu crescimento ou beleza e a deixava sem ar. A intenção dele era a melhor para ele, a dela, melhor para ela. Embora ainda de mãos dadas, já não vivam o mesmo ideal. Cansada, ela clamou por seu espaço. Ele não pode recusar.
Mas naquela noite em que pudera respirar todo o ar, e sentir todo o espaço livre que agora era seu, percebera que deixara de dizer uma única coisa a quem amavelmente sempre chamara de anjo, seu anjo: não há arvore que cresça sem solo fértil. Não há pequena menina que cresça sem base, que cresça sem ser a base de amor, atenção e reconhecimento.
Ela esquecera de dizer que jamais soltaria sua mão.
Eu a conheço muito bem. Sei que jamais soltará.


Ramona C. Reichert

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