segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

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"Era uma vez" é tão corriqueiro! "Era uma vez" é tão trivial! Ideal para a história que tenho para contar.

Era uma vez uma mocinha, pequena, sabida, silênciosa.
Acordava todas as manhãs ainda com o peso do dia anterior. Fingindo não ligar , carregava seu fardinho pelos "amanhãs" encenando leveza!
Ensaiava alguns sorrisos, exibia certa simpatia, mas não podia expor a alegria que não sentia.
Deixava o tempo correr conformada, sem ansiedade, sem muita calma, apenas permitia que passasse, sem que ela se sentisse parte dele. Era alheia ao tempo.
Todas as noites saia sozinha, batia na mesma porta e esperava que aquela senhora de vestes coloridas e olhos brilhantes e saudosos abrisse a porta.
A senhora atendia pelo nome de Lembrança, estava sempre muito disposta esperando que a pequena a chamasse e a convidasse para um passeio que Dona Lembrança sempre aceitava. Saía livre pela porta de encontro à pequena que se sentia bem na presença dela. Dona Lembrança fazia ela rir, gargalhar, reviver.
Mas quando Dona Lembrança se recolhia a sua casinha outra vez a menina parecia cair. Ficava insegura, vazia, frágil, sozinha.
A senhora de olhar cintilante era sua única companheira, a única que ficou do seu lado. Se afastar dela era se afastar do tudo.
A pequena mal sabia que não precisava se preocupar, Dona Lembrança jamais a abandonaria de vez.
Ela nunca abandona, nenhum de nós.

Ramona C. Reichert

4 comentários:

  1. eu até deixaria um recado para o texto, mas já fiz isso a um tempo atras. Então deixo um bju para a autora.

    Fui

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  2. que definitivo...
    autobiográfico?
    Esse "era uma vez" nem sempre é tão trivial, ainda mais quando é autobiográfico.

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  3. acho que isso torna ele melhor ainda
    parabéns.

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