quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Outra vez Clarice.



Há alguns dias vinha sentindo falta de Clarice, velha amiga  e ainda assim sempre uma novidade para mim.
Resolvi procurá-la, sabia que estaria em qualquer lugar mais “Cult” dessa cidade solitária.
No meio da noite a encontrei, pequena e arisca, como sempre.
Observei de longe seus trejeitos e não tive dúvida, era ela. Mantinha as mesmas olheiras fundas, mas não chorava como antes, a vida já não parecia lhe doer mais.
Me aproximei.
Não foi preciso mais de alguns minutos em sua companhia para eu ser tomado pelo susto: Clarice não era mais a mesma!
Falou muito pouco, não tinha histórias para contar. Ainda velava um sentimento.
Disse que seus dias passam cada vez mais lentos e que já não tem expectativas.
Clarice não vê muitos motivos para sorrir hoje, mas também já não se atreve a chorar.
Pensei então que a vida endurece as pessoas, mata os sonhos, faz definhar as ilusões. Sempre disse que a dor anestesia, Clarice agora ilustrava minha crença.
Ela voltou para o seu mundo isolado, para os seus livros, seus discos, seus rascunhos mal feitos de historias mal contadas.
Voltou a fumar também. Nessa solidão absoluta vale qualquer coisa que a mate mais rápido. Vale qualquer coisa que a deixe mais perto de sua "hora da estrela" como Lispector já havia descrito.
Eu amo Clarice com um amor de igual para igual. Me entristeci ao revê-la, mas aquela era ela em sua essência.
Sozinha, arredia e calada.

Ramona C. Reichert


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