domingo, 8 de fevereiro de 2009

Como fazia todos os dias, entrou naquele lugar que a desagradava. Era um rapaz alto, forte, de pele clara e cabelos escuros. Apesar da pouca idade aparentava uns trinta anos para aqueles que não tinham a alegria ou o desprazer de desfrutar ou ser vítima de sua infantilidade incorrigível.
Ultimamente ele se sentia diferente, percebia algo estranho em si, algo como paz ou vazio.
Ela, também de pele clara e longos cabelos escuros, ainda passava por ali todas as manhãs, porém agora o corpo dele não estremecia quando a via, nem procurava mais desviar o olhar. Não reprimia os sentimentos, sequer os tinha. Sua face exibia a mais pura expressão de ausência, como um poço profundo e seco.
Não entendia o que estava acontecendo. Não sabia que este estágio de inércia sentimental só vem quando a dor passada foi tamanha a ponto de anestesiar.
Dor demais insensibiliza.
Aqueles dias sem cor, sem dor, sem amor, cheios de nada eram os que lhe ensinariam que os corações mais frios são os que mais sentiram antes do inverno os invadir.
Entenderia então que aquilo só estava contecendo com ele porque um dia, por sua causa, o mesmo aconteceu com ela.
A dor de ambos, que era a mesma, os tornou insensíveis.