quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009


Ela estava ali sentada. Tentando sustentar, sem perceber, seu ar de mulher inabalável.
Folhava um livro grosso graciosamente e só de vez em quando olhava em volta por cima do óculos.
Quem a via assim altiva, não imaginava que nem prestava atenção nas linhas que os olhos percorriam maquinalmente.
Ela estava em conferência consigo mesma. Estava colocando a cabeça para sentir e o coração para pensar. Suas veias faziam circular pelo corpo, não o sangue, mas a dor existencial que sentia.
A pobre se confundia entre a conduta e o sentimento.
Entre a pose e o desprendimento.
Entre o salto alto e o “vá para o inferno” que latejava permanentemente em sua língua, contido pelo bom senso.
Ela esperava em vão encontrar o equilíbrio. Tudo lhe remetia a mesma fatal conclusão:
- Tenho que ser o que tenho que ser
- Tenho que ser o que esperam que eu seja
- Tenho que ser esta, que até eu já acredito ser.
A um passo da insanidade se entregou de vez aos paradigmas e expectativas alheias.
Calou o próprio coração.
Este, desolado, oprimido pela razão e sem ver sentindo para a sua existência resolveu, repentina e acertadamente: parar de bater.
O livro continuou aberto...

Um comentário:

  1. Triste verdade que assombra, não só a mulher de óculos, mas a maioria daqueles que chamamos de humanos.
    Ainda bem que para todo ponto existe sempre um contra-ponto. Assim a resistência ainda se mantém e o mundo não esta perdido. E a vaca, ainda, não foi pro brejo.

    PS: VIVA A RESISTÊNCIA!!! Ela está querendo VOCÊ! Aliste-se já!

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